domingo, 26 de fevereiro de 2012

ESPELHO


                                       ESPELHO

A primeira estrela da tarde brilha,
Passeia pelo céu a me olhar,
Com pena do vazio do meu dia,
Contempla a dor no meu peito a rogar
Migalhas de amor que meu sonho cria.

Vaga pela noite a triste figura,
Espelho da minh’alma ressequida,
Refletida na pálida luz pura
Do luar suspenso em tela esquecida,
Pobre artista da obra inacabada.

Resisto ao silêncio do breve momento
Dessa natureza sombria e cálida,
Na esperança de ver a minha vida
Encontrar a luz da noite pálida,
Na doce desesperança sentida.

Anseio o raiar do sol na manhã,
Então esquecer medonho pesadelo,
Matar no peito essa esperança vã,
Sair da noite sem querer perdê-lo:
Amor traçado na tela acabada!


                    TERNURA


O tempo passou...
Os sonhos:
Alguns realizados,
Outros guardados,
Ou perdidos em gavetas antigas,
Sufocados,
Esquecidos,
Matados.

A vida passou...
Todavia ainda resta o olhar
Amadurecido,
Por vezes cansado,
Mas com a mesma ternura
Que a poeira da estrada não embaçou,
Que o relógio inexorável do tempo
Não apagou.

A ilusão passou...
Foi aos poucos se esfumaçando,
A desmanchar-se ao vento,
Diluindo-se,
Integrando-se ao pó
E assim deixando espaço
À realidade doída,
Nua e crua, verdadeira,
Sem mágoas ou ressentimentos,
Apenas verdalidade.

Só a ternura não passou...
Agasalhou-se no peito,
Ficou trancada,
Adormecida,
Recatada,
Tímida,
À espera de um novo tempo,
Ou de uma nova vida
Pra sorrir,
Desabrochar,
Ou simplesmente acordar!


                         PEDAÇOS

I
Ao sabor do vento
Vão as asas desenhando no céu
O balé dos anjos,
Misturando cores,
Fundindo luzes e sombras
E lá do alto,
O sonho voa livre,
Sem limites,
Sem fronteiras.

Vai, beija-flor,
Conquista o que é teu!
Sonha com o universo e descobre,
Uma a uma, cada estrela
Que o sol encobre,
Muda o teu rumo,
Escolhe teu caminho,
Busca no infinito
O momento exato do teu ideal!
Olha as montanhas silenciosas
Que te acompanham o voo,
Vê o rio de águas claras
A serpentear o vale
À procura do mar
E assim cumprir seu destino.
Colhe a brisa perfumada
Que alimenta a dança das folhas,
O capim e as flores,
Abraça a esperança
No arfar das tuas asas,
Junta teu silêncio
À triste mudez das coisas perfeitas,
Eterniza teu momento mais feliz
Envolve-te nessa paz,
Sejas pleno,
Total
Eterno,
Para então selares teu destino!


II

O sol diz bom dia ao meu vale
E a vida acorda,
Olha cada homem na sua grande solidão,
Pois apenas ao coração
É permitido ser só.
A luz invade a Terra e clareia,
Sem que alguém peça a ela,
A flor nasce nas pedras,
Nos vãos dos muros de pedras,
Nas sepulturas esquecidas,
Nas montanhas e picos mais altos,
Perfumam e colorem o mundo
Sem que alguém a semeie.

O tempo passa inexoravelmente,
Mesmo contra a vontade do homem.
O rio corre, solitário e decidido,
Fazendo brotar a vida,
Cumprindo seu destino,
Sem que o homem interfira.

A noite chega,
Suas sombras invadem o dia,
Estrelas flutuam no céu
E brilham, salpicando os olhos.

Os planetas, um a um,
Ordenam-se harmoniosamente
E tudo segue seu rumo
E tudo é perfeito
Porque a natureza
É divinamente sábia...


III


Há na minh’alma uma enorme saudade.
Saudade de tudo que foi
E de tudo que poderia ter sido.
A alma anseia a liberdade que o corpo não tem.
O sonho quer o impossível
Assim como o vento quer a folha
E o sol quer o céu.

O peito esconde tanta emoção,
Sufoca-a tanto,
Que o risco torna-se iminente
De uma grande explosão,
E assim, cada átomo em mim,
Alçará voo no cosmo
Sem portas, paredes ou janelas.

Aí, encontrar-me-ei com a essência
Que faz a luz brilhar,
Que faz a vida brotar.
E cada átomo será um todo:
Hei de me dividir e ser inteira.

Esse voo será como o das borboletas:
Alegre,
Colorido
E total
Na sua fragilidade.
Irei por vales e montanhas,
Praias e mares,
Pousando aqui e ali,
Por calmas planícies,
Insondáveis grotões...

Hei de ouvir o canto dos pássaros,
O zunido dos ventos,
O chiar das águas nas pedras,
O grande silêncio do mundo.
Hei de sentir
O perfume das flores silvestres,
O calor natural do sol nas asas,
O cansaço dos andarilhos,
A liberdade.
E num dia azul de primavera,
Num lindo jardim colorido,
Hei de pousar cansada,
Nas tuas asas inquietas,
Beija-flor da minha vida!


             RE-ENCONTRO


Valeu a pena viver
Pra hoje ter liberdade
De ver, sentir, viajar,
Sem correntes,
Sem amarras.
Pegar a estrada,
Sentir o vento soprar,
Ter o pensamento a voar
Sem destino,
Sem hora pra voltar.
Rever amigos, amores,
Voltar no tempo,
Entregar-se aos sonhos
Perdidos ou vividos,
Desejar o impossível,
Colorir o céu curvilíneo,
Quietar na aurora silente,
Aguardar a tarde cinzenta,
Procurar a estrela cadente,
Sonhar um desejo ardente!
  


      BORBOLETA

Hoje hei de pousar em teu sonho
Qual borboleta inquieta,
Roçar as asas nos teus olhos,
Embalar teu sono
E olhar-te profundamente enquanto dormes.
Tu me verás no teu sonho
E tão intensamente me olharás
Que nossas almas serão uma só.
Tu serás minha luz e eu a tua,
Tu me guiarás e eu a ti.
E quando o dia chegar silencioso,
Hei de roçar as asas, bem na ponta do teu nariz.
Tu acordarás assustado
Com um enorme ATCHIMMMMM!...
Se olhares à distância,
Talvez alcance meu voo pela janela,
Contudo, se teus olhos
Pousarem na realidade das horas,
Verás os ponteiros girando,
Contando as primeiras voltas.
E assim será! Será?



     IMPRESSÕES



O céu
A serra
O sol

A brisa
O silêncio
A solidão

Fim de tarde
Fim de azul
Fim do dia

O meio sol
A meia sombra
A primeira estrela

O tom escuro
O vento frio
Serra e céu

Negra noite
Meia lua
Penumbra.

DISTÂNCIA PARANAENSE

         DISTÂNCIA PARANAENSE


Se eu tivesse um par de asas
Voaria até você,
Passaria óleo em seu corpo,
Nessa noite fria e chuvosa
E depois me abraçaria
Aos seus braços carinhosos,
Dar-lhe-ia muitos beijos,
Até que adormecesse.
E amanhã logo cedo,
Depois de arrumar seu café,
Então voaria de volta,
Rumo ao sol e ao céu azul
Do vale do meu Paraíba.



          SONETO DA CHEGADA


Há um cheiro bom de flores no ar,
Há uma vontade imensa de amar,
O coração se enche de esperança,
Contando as horas pra você chegar.

Há uma alegria de infância no mar,
Há um desejo vão de me atirar,
Nessa onda curvilínea que avança,
Quebra-se, espuma na dança lunar.

Há estrelas que o sol quer apagar,
Há essa manhã de espera sem par,
Há meu sorriso no sonho a vagar.

Quero sua pele morena desnuda,
De acenos vãos vivo na espera muda,
Finco meus pés na plataforma surda.


               SEM ADEUS


Mais uma despedida triste
Na mesma plataforma rústica,
Testemunha muda de lágrimas,
De abraços sentidos de adeus,
De abraços longos de chegada.

Entre malas, passagens, pressa,
Presentes pra um aniversário,
Vejo você partir de novo
Sem saber quando as minhas mãos
Haverão de tocar as suas.

Espero o ônibus partir,
Prego os pés no chão sem querer,
Prolongo a despedida triste
Não penso em me afastar feliz,
Na esperança de ver meus olhos
O seu doce olhar encontrar.



            ARQUITETO

Minha casa tem janelas
Que se abrem para a Serra,
Deixando a vista alongada
A buscar sonhos perdidos.

Tem alpendre com orquídeas
E cadeiras de balanço
Pra embalar os sonhos meus
Em tardes de vento manso.

Há jardins com muito verde
E paredes transparentes,
Pássaros de toda espécie
Cantando pra eu acordar.

Minha casa é meu sonho
Planejada com sabor
Tem segredos revelados
Em cada retrato antigo.

Falta você estar nela
De mãos dadas com a lembrança,
Contando histórias de amor
Que revivo em cada canto.

Minha casa tem suas mãos
No desenho planejado
Fruto da imaginação
Que transborda em seu peito.

Minha casa é nossa casa,
Meu sonho é nosso sonho,
Minha vida é nossa vida,
Na construção desse amor.


            BALÉ


A bola
Rola
Se embola
Gira e corre
Dos pés da menina.
Dança pra cá
Dança pra lá
Finge que vai e fica.
A menina
De vestido colorido
Roda e envolve a bola
Que foge assustada
Com medo das sapatilhas
Pequeninas
Da menina.
Os cachinhos
Pulam, saltam
Entre laços de cetim,
Pra alcançar a bola
Que roda, roda
Pra se livrar da menina.
Nesse balé de rodopios
Entre risos e corridas
Sai a bola colorida
Levantando a areia da rua
Se embolando com a poeira
Na doce brincadeira.
Chora a menina
Ri a bola
Que não dá nem bola
Pra manhosa pequenina,
Quer é ficar livre
Pra rolar, correr, voar
Ficar solta,
Sem destino,
Ser feliz!
Pobre menina!

SONHO DE MOLEQUE

SONHO DE MOLEQUE



A pipa no ar
É magia,
Faz sonhar.
Parece solta ao vento
Chega tão alto, a danada,
Voa tão livre, assanhada,
De lá pode ver tudo
Que a vista pode alcançar.

A mão que empina a pipa
Faz a alegria dançar,
Solta a linha
Com cuidado
Pra não embarrigar.

O menino não se cansa
De ver sua pipa voar,
Ela vai além do mar
Aonde ele quer chegar!

Sonha, menino, sonha,
Que um dia a sua pipa
Vem seu sonho buscar.


VALE ENCANTADO


As flores do meu jardim
Enfeitam-me a vida breve.
Enquanto o sol acorda o dia,
O grão de areia na terra
Reflete a luz recebida
E ilumina sentida
A minha vida vazia.

Longe, muito longe,
Flores coloridas, silvestres
Cercam meu Vale encantado
Que se alonga indolente
Seguindo as curvas do rio,
Cujas águas seguem mansas
Barrentas,
Densas,
Vencendo as pedras, rasas,
A mergulhar nas valas profundas,
A guardar segredos mudos,
Lendas, contos, histórias
Envoltas em doce magia.

Nesse cenário antigo
A Mantiqueira sorrindo
Abraça a vaga planície,
Com seu manto cobrindo
Mistérios de amores vividos.
Suas raras montanhas
Não abrigam no inverno
A neve do frio intenso.
Quando muito, acanhadas
Escondem-se em branca neblina
Que, às vezes, desce a Serra,
Cobre os telhados das casas
Coloridas, enfileiradas;
Espremem-se em ruas estreitas,
Desenham pequenas cidades.

Contudo meu terno olhar
Pode ver além, o mar
E no mar meu barco
A deriva navegar,
Seguindo no mesmo compasso
Do pouco vento a soprar,
Perdido a flutuar,
Sem estrelas pra se guiar.

SER


Eu quero ser pra você
O voo livre da gaivota,
A nuvem solta no céu,
O vento sul a soprar.

Eu quero ser pra você
A onda explodindo a areia,
O sol que ilumina o dia,
O colorido do mar.

Eu quero ser pra você
A terra fecundando a flor,
A raiz segurando o caule,
A folha respirando o ar.

Eu quero ser pra você
O começo e o fim,
O riso e o pranto,
O não e o sim.

Eu quero ser pra você
A estrela da manhã.

Eu quero ser pra você
O mar encontrando a areia,
O vento levando o barco,
A flor perfumando a teia.

Eu quero ser pra você
Asas planando no céu,
A liberdade,
A brisa acariciando o véu.

Eu quero ser pra você
A chegada e a partida,
Braços envoltos num abraço,
Eu quero ser pra você
O arrepio de um beijo roubado.

Eu quero ser pra você
A tempestade
E o arco-íris,
Eu quero ser pra você
A luz ,
A lamparina na escuridão,
O silêncio e a canção.

Eu quero ser pra você
A decolagem e o pouso.

Eu quero ser pra você
A dor da saudade,
O encontro e o olhar.

Eu quero ser pra você
O nascente e o poente,

Eu quero ser pra você
O caminho e a estrada,
O tudo e o nada.

Eu quero ser pra você
A serra que descobre o sol
A cada manhã,
A curva que abraça a lua
No céu onde flutua.

Eu quero ser pra você
O verso da canção,
A rima,
O poema mais perfeito,
O degrau da subida,
A calçada da rua,
A igreja.

Eu quero ser pra você
O brilho nos seus olhos,
O seu guia,
A sua pele,
A sua calma,
O seu sono,
A sua vida.



DESEJO


Quisera ter asas e voar
Para um arco-íris encontrar,
Ter de volta meu solar,
Ouvir da natureza o cantar.

Quisera ter sonhos pra sonhar,
Sentir da vida o soar,
Da rosa o desabrochar,
Da semente o brotar.

Quisera ser nuvem perdida
Que parte sem despedida,
Vento sem melodia
Sol sem curva escondida.

Quisera ser barco sem partida,
Ser onda na areia arredia,
Concha na praia escondida,
Saudade no peito sentida.

Quisera ter e ser seu espaço,
Horizonte preso no passo,
Coração a bater no compasso
Das horas que não refaço.

Quisera olhar a vida no traço
Da arte sem descompasso,
Correndo atrás do regaço
Sem tempo, sem dor, sem laço.